domingo, 12 de outubro de 2008

Mutante entre nós


Fungo que se "alimenta" de radiação


Numa matéria da Cosmos Magazine (Issue 21, Junho de 2008), Lauren Monaghan comenta que uma equipe de cientistas encontrou uma espécie de fungo vivendo nas entranhas do reator número 4 da famosa Usina Nuclear de Chernobil. Trata-se do fungo Cladosporium sphaerospermum, um fungo melanizado com distribuição mundial, comumente isolado do ar, solo, tecidos, como também material de construção, como paredes pintadas (Vide figura).

A pergunta que se faz imediatamente é: Como esse fungo sobreviveu à radiação do interior deste reator? E qual seria sua fonte de energia, uma vez que o reator estava isolado do resto do mundo por um sarcófago de ferragens e cimento?

Para tentar resolver estas questões, a equipe de pesquisadores do Albert Einstein College of Medicine (New York), começaram a analisar os efeitos da radiação sobre o crescimento deste fungo e de outros, tomando a fotossíntese como modelo: Se plantas podem usar um pigmento verde, a clorofila, para absorver a energia do Sol e produzir energia química metabolizável, estes fungos poderiam de alguma forma absorver a energia radioativa com algum pigmento, como por exemplo a melanina, e produzir energia metabolizável também, em uma espécie de "radiossíntese".

De acordo com o artigo publicado pelos pesquisadores na revista PLoS One, no qual três espécies de fungos, incluindo C. sphaerospermum, foram irradiados com doses similares às presentes no interior do reator (cerca de 500 vezes maiores do que a normalmente presente na Terra), ocorreu um aumento de 4 vezes na capacidade da melanina dos fungos de reduzir NADH em relação aos fungos não irradiados.

Além disso, a análise da melanina dos fungos crescidos em diferentes substratos revelou uma complexidade química, dependente da composição da melanina no substrato de crescimento e sua interação com a radiação ionizante.

O fungos melanizados Wangiella dermatitidis e Cryptococcus neoformans, com a exposição maior a radiação, cresceram significantemente mais rápido, produzindo uma maior massa seca com uma maior absorção de acetato marcado quando comparados com os mutantes albinos (sem pigmento). Em adição, a radiação aumentou a velocidade de crescimento das células de C. sphaerospermum sob condição de limitação nutricional.

Porém estes resultados somente indicam que fungos irradiados apresentam uma maior crescimento, não demonstrando entretando, porquê isso acontece. Mais informações metabólicas e bioquímicas são necessárias antes de se conluir que a "radiossíntese" realmente está atuando nestes organismos.

Porém, se ficar demonstrado que realmente, a radiação ionizante pode ser uma fonte de energia para reações metabólicas mantedoras da vida, esta nova abordagem terá diversas aplicações, além de fortalecer a esperança de existir vida fora da Terra.

Dadachova E, Bryan RA, Huang X, Moadel T, Schweitzer AD, et al. Ionizing Radiation Changes the Electronic Properties of Melanin and Enhances the Growth of Melanized Fungi. PLoS ONE 2(5), 2007. e457 doi:10.1371/journal.pone.0000457.

Monaghan L. Deep in the radioactive bowels of the smashed Chernobyl reactor, a strange new lifeform is blooming. Cosmos, n.21, 2008.

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